domingo, 6 de janeiro de 2013

A classe do português é mais do que um rego

Da janela do meu quarto tenho vista para quase toda a cidade onde vivo.
Da janela do meu quarto vejo uma casa pequena que está em obras prolongadas. Uma casa com um telhado minúsculo cujas obras de reparação se prolongam no mínimo, por uns valentes 6 meses.

Pelo tempo que estão a demorar, pressinto que tratam cada telha com imenso carinho. Uma telha por dia, uma telha de cada vez. Dão um beijinho na telha. Dão-lhe um banho de água com argila. Fazem-lhe pequenos curativos com barro. Levam a telha a jantar a um restaurante fino. E à noite, no mesmo telhado, à luz do luar, fazem amor com a telha. Com protecção espero.


Eis que vou à janela ver o tempo e acontece o fim do mundo. O trabalhador que estava sentado, levanta-se e de costas para a minha casa baixa as calças. Baixa as cuecas. (Por momentos pensei que fosse mijar do alto do telhado na esperança de criar uma cascata de mijo.) Estica a camisola e puxa as cuecas e calças para cima. Ajeita-se todo. Guardarei para sempre a visão concreta da classe de um português. Uma classe que vai muito para além do rego ao léu de um simples pedreiro. Sei agora que os trabalhadores em telhados são muito mais hardcore. RESPECT!

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